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Reclamar menos, trabalhar mais — o recado global que o Brasil insiste em ignorar

  • Gustavo Sette
  • 13 de mai.
  • 4 min de leitura

Já que o Brasil vive em uma espécie de bolha — com discussões próprias, prioridades invertidas e uma desconexão crescente do resto do mundo — talvez valha a pena importar um alerta.


Não é só uma bolha cultural. É uma bolha que produziu uma das economias que menos crescem nas últimas décadas.


Por isso, trago algo que parece do futuro. Mas é apenas o presente — para quem já saiu da bolha.


As empresas americanas estão mandando um recado claro e forte:


É hora de arregaçar as mangas, reclamar menos e agradecer por ainda ter um emprego.


Esse foi o tema de um artigo publicado ontem no Wall Street Journal, dizendo com todas as letras aquilo que muitos líderes no Brasil ainda não tiveram coragem de dizer:


O pêndulo virou.


Durante a pandemia, os governos distribuíram cheques generosos para que as pessoas ficassem em casa. Os juros em todo o mundo estavam muito baixos, então estava mais fácil entregar resultados que remuneravam os acionistas. As empresas, acuadas e dependentes de sobrevivência imediata, se adaptaram. Ofereceram home office, aumentaram benefícios, flexibilizaram tudo. O discurso foi: "O bem-estar do colaborador em primeiro lugar."


Só que isso não era cultura. Era estratégia de sobrevivência.


2025 chegou. E com ele, a conta — e um novo jeito de trabalhar: direto, impaciente e pragmático.


Os principais executivos deixaram o marketing de gentileza de lado. Agora falam de retorno, produtividade e resiliência. Com todas as letras.


Jamie Dimon, CEO do JPMorgan, declarou: "Tem muito funcionário agindo como se ainda estivéssemos em 2021."


Ou seja: esperando flexibilidade total, reivindicando home office como direito inegociável, reclamando de metas como se fossem agressão.


Para Dimon, esse tipo de postura perdeu o prazo de validade.


E ele não está sozinho.


Brian Niccol, CEO da Chipotle, falou abertamente após cortes de pessoal que os que ficaram precisam “assumir mais responsabilidade pelo crescimento da empresa”.


Dara Khosrowshahi, CEO do Uber, reconheceu que certas decisões internas (como mudanças em políticas de sabático e benefícios) seriam impopulares, mas afirmou com frieza: “É um risco que vale a pena correr.”


Tobi Lütke, CEO da Shopify, foi ainda mais direto: “Antes de contratar alguém, perguntamos se a IA pode fazer esse trabalho.”


Em outras palavras: se a inteligência artificial for suficiente, você é dispensável. Simples assim.


Micha Kaufman, fundador da Fiverr, cravou: “Quem não se adaptar à nova realidade está condenado.”



Agora olhe para o Brasil.


Por aqui, ainda estamos debatendo se o chefe pode ligar depois das 18h. Se o colaborador pode faltar para levar o cachorro ao veterinário. Se dizer que a meta precisa ser batida é assédio moral. E agora, uma inacreditável discussão sobre redução de jornada.


Parece piada. Mas não é.


Enquanto o mundo endurece o discurso e foca em resultados, aqui seguimos presos em 2021. Só que sem pandemia, sem chequinho do governo, e com inflação e juros em patamares bem diferentes.


Sinto dizer: os cheques acabaram, os juros subiram e a paciência das empresas também.


Lá fora, empresas ajustam headcount, testam substituição por IA e enxugam custos. Aqui, a cultura dominante ainda vê o empresário como o vilão e o trabalhador como vítima.

E mais: reforçamos o mito de que o Estado deve garantir tudo, para todos, o tempo todo — mesmo que ninguém entregue nada.


Essa mistura de visão paternalista com discurso assistencialista criou uma bolha onde trabalhar virou quase ofensivo. Onde se espera acolhimento incondicional, mesmo sem entrega mínima.


Mas a realidade é teimosa. E ela chegou.


Quem está atento já entendeu: O pêndulo não está virando — ele já virou.


E aqui vale um ponto importante:


Este artigo não é um manifesto ideológico. Nem uma bronca gratuita.


É um alerta. Uma visão externa a um Brasil que insiste em viver dentro da própria bolha.

No fundo, eu adoraria que esse sonho fosse possível: Todo mundo trabalhando poucas horas, de casa, de forma equilibrada, com inclusão, flexibilidade, metas que não apertam, gestores empáticos, reconhecimento constante.


Seria lindo.


Mas talvez isso seja como querer o melhor da vida de casado e da vida de solteiro ao mesmo tempo. A conta não fecha. E o mercado global não tem tempo nem paciência para utopia sustentada por PowerPoint.


E agora?


Se você é empresário, CEO ou empregador: Não tenha vergonha de falar em lucro, em bater meta, em resultado. A cultura popular vai tentar te silenciar. Vai te chamar de opressor. Mas a realidade costuma dar razão a quem entrega — não a quem performa bondade em rede social.


Se você é empregado: Lembre-se de Darwin. Sobrevive quem se adapta — não necessariamente o mais forte. Tenha mais gratidão pelo seu emprego. Se coloque no lugar de quem paga seu salário. Trabalhe com mais entrega e menos drama. E se for preciso manter o discurso “humanizado” para sobreviver internamente, tudo bem — finja, mas entregue.


E para todos que vivem na bolha brasileira: Tome cuidado com as ideias que só funcionam aqui. O mundo lá fora está andando. Estamos ficando para trás. Não por sermos geniais demais, mas por recusarmos a realidade por tempo demais.

Continue lendo nossos jornais, revistas e influenciadores de negócios, mas não leve aquilo tão a sério.


Se isso te provocou, talvez seja hora da gente conversar — antes que a realidade se encarregue. 


Tenho orientado alguns executivos e departamentos de recursos humanos a manejar a cultura entre os polos — do “funcionário pode tudo” para “temos que dar resultados”. Isso exige conversa adulta, estratégia e coragem. Três coisas que não se aprendem em post de LinkedIn.


O artigo citado, é, "Everybody’s Replaceable: The New Ways Bosses Talk About Workers" (“Todo mundo é substituível – o novo jeito dos chefes falarem com seus funcionários”), publicado no Wall Street Journal de 12/5/25.




 
 
 

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