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Apagão de talentos? Prepare-se, pois só vai piorar

  • Gustavo Sette
  • 4 de jun.
  • 3 min de leitura

Quando chego a um cliente — pessoa física ou jurídica — posso apostar que, em algum momento, ele vai dizer: “Está difícil contratar.”


Provavelmente as construtoras que ergueram as pirâmides no Egito Antigo já falavam isso. E olhando para o futuro, especialmente no Brasil, não vejo motivo para otimismo.


Comento quatro razões para isso:


1. A educação do povo. No Brasil, 66% dos jovens não têm as habilidades mínimas necessárias para algum sucesso profissional. E não vejo essa situação melhorar. O assistencialismo estatal só amplia o “benefício” de não trabalhar, e o tema da educação virou tabu: está ruim, mas ninguém pode tocar no assunto. E agora com a IA à disposição, qual jovem vai ler Dom Casmurro? Quem vai encarar um listão de exercícios de matemática? Todo o sistema de incentivos joga contra a educação. 


2. A cultura do trabalho. Estamos promovendo a ideia de que todo empresário é um bilionário malvado que destrói o planeta e explora trabalhadores. A cultura do trabalho deveria ser: entregue tudo nos seus anos dourados, acumule patrimônio e conhecimento, estude, trabalhe, aproveite a vida e prepare o futuro. Mas o discurso atual é outro: trabalhe pouco, afinal pagam mal; desligue o celular às 18h em ponto; processe; formalize; exponha a empresa; o patrão é sempre o vilão.


3. A cabeça rígida das empresas. As empresas seguem presas a um estereótipo: querem profissionais de sexo, idade, formação, jeitão específicos — e não abrem mão. Não testam, não dão chance. Reclamam que está difícil, mas continuam procurando o mesmo perfil, nos mesmos lugares, com os mesmos processos. Insistem em repetir o fracasso.


4. A legislação trabalhista. Diante da escassez de empregos, em vez de revisar o risco trabalhista, os legisladores dobram a aposta: mais regras, mais controles, mais riscos, mais ressentimento. Deveríamos suavizar a relação com quem emprega, mas não: tratamos o empresário como inimigo. Muitos jovens já perceberam a armadilha e dizem que a CLT é a última opção. E seguimos acelerando rumo ao muro.


A boa notícia — se é que existe — é que esses problemas são democráticos: afetam a todos. Ou seja, ainda dá para se diferenciar.


Algumas ideias... 


  • Planejar processos e tarefas com o que existe. Adapte a execução ao nível mediano da mão de obra disponível. Se sua empresa depende de um Steve Jobs ou de um Cristiano Ronaldo, você está perdido. Pode ser que precise de mais gente, mais divisão de tarefas — cada caso é um caso — mas o importante é não depender do que o mercado não tem. Um cliente certa vez traduziu essa sugestão de um modo menos elegante: "você sugere que eu me estruture para bater meta com a mediocridade que o mercado oferece?". Bem, é isso... 


  • Abra a cabeça para novas formas de trabalho. Use automação, IA, robôs, explore diferentes regimes de contratação. Pare de contratar os mesmos perfis, nos mesmos moldes, com os mesmos vícios. Abra-se aos mais velhos, ao freela, ao executivo interino, à contratação internacional. E em vez de reclamar da geração jovem, tente entender o que é viável com ela — porque é isso que vai ter.


  • Reavalie suas expectativas sobre encantar o cliente. NPS nas alturas é ótimo — mas custa caro. Aqui na Europa, já tem hotel 5 estrelas de €300 que não limpa o quarto todo dia. E quando limpa, não é nada demais. Isso não é descaso: é ajuste à realidade. Com menos gente e gente menos qualificada, encantar sai mais caro. Talvez tirar 9 seja inviável — e tirar 8,5, plenamente viável.


Não existe apagão de talentos. Apagão pressupõe que a luz vai voltar. Não vai. E Darwin já dizia: sobrevive não o mais forte, mas o mais adaptável.


Se você é profissional em carreira, desligue o ruído raso que separa patrão e empregado. Torne-se um profissional melhor, entregue resultado, negocie bem, construa seu patrimônio e planeje sua vida sem depender nem reclamar de ninguém.


Se você é empresa, reveja conceitos, abra a cabeça, teste novos modelos, perfis e métodos de trabalho. Construa processos que funcionem com a mão de obra real — não com a ideal. E acompanhe as tendências do seu mercado para continuar entregando valor ao cliente sem quebrar.


Não se trata de um apagão, nem de uma fase ruim. É uma mudança estrutural na oferta, na cultura e nas expectativas. As empresas que insistirem em velhos padrões continuarão contratando mal e sofrendo mais. Os profissionais que resistirem à adaptação continuarão perdendo espaço, ainda que não percebam. Eu atuo com quem escolheu enfrentar essa realidade de frente.



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