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Observe, em Charles, os desafios de um sucessor

  • Gustavo Sette
  • 9 de set. de 2022
  • 3 min de leitura

É interessante observar o processo sucessório ao trono inglês pois, por incrível que pareça, muitas famílias utilizam parte do ritual em seus negócios – e muitas características da monarquia acontecem também em famílias empresárias. Entre elas, uma certa estereotipagem pejorativa do sucessor.





A sucessão ao trono britânico é regida pelo Bill of Rights de 1689 e pelo Act of Settlement de 1701. A sucessão é determinada por descendência, sexo, legitimidade e religião. Em outras palavras, o sucessor é o filho homem mais velho desde que ele siga mais ou menos os passos e o jeito de pensar do antecessor – nada muito diferente do que acontece na maioria das famílias empresárias.


As regras de sucessão são votadas pelo Parlamento, o que traz um interessante “equilíbrio entre poderes” – a monarquia referenda o governo e o governo toma decisões sobre a monarquia. A última alteração é de 2013 (“Succession to the Crown Act 2013”).


Diz o ritual que, logo após a morte do rei no comando, há uma reunião no St James Palace do Accession Council, ou “Conselho de Adesão”, que reúne autoridades do Estado para anunciar formalmente a morte do Monarca e proclamar a sucessão do novo Soberano. Essa reunião não ocorre desde fevereiro de 1952 e deve ocorrer hoje, em duas partes, com cerca de 200 pessoas elegíveis presentes.


Na 2ª parte do Accession Council, deve ocorrer a primeira declaração oficial do novo rei, e o famoso hino mudará de “God Save the Queen” para “God Save the King”.


Curioso em todo esse processo é que não se leva em conta a vontade dos participantes da Família Real, quem nasce na família vem ao mundo com um mandato, com uma história pronta. Já pensou na hipótese de um sucessor não querer ocupar esse papel de espera e depois de tornar-se rei? Pois isso aconteceu, e não faz muito tempo.


Elizabeth assumiu o trono em 1952 com a morte de seu pai, o rei Jorge VI, que só ocupou o trono porque seu irmão mais velho, Edward VIII, abdicou do cargo. Ele tornou-se rei aos 42 anos, em janeiro de 1936, e abdicou no final daquele ano. Edward demonstrava certo desprezo pelos ritos monárquicos e, tão logo assumiu a coroa, comprou uma briga difícil: resolveu casar-se com uma americana que tinha dois divórcios. O rei não só deixou o cargo, como saiu do país e viveu mais 36 anos na França, com a mulher (e a vida) que escolheu. É semelhante ao caso do Príncipe Harry, que mudou de país, casou-se com uma estrangeira e abriu mão, dentro do possível, da vida monárquica.


Veremos agora a esperada sucessão do Príncipe Charles tornando-se King Charles III, e quero convidá-los a observar os comentários nas rodas de conversa sobre o novo soberano. Posso apostar em alguns, que eu inclusive já ouvi:


“Não tem postura para ser rei”.

“Trocou a Diana por essa Camila”.

“O bon vivant esperou 73 anos para começar a trabalhar”.

“Não está à altura da mãe”.

“Muito velho para ser rei”.


Após a coroação, é provável que tudo que Charles faça seja comparado com a mãe, e novos comentários virão:


“A Rainha teria feito melhor”.

“Ela viveu momentos mais difíceis, esse aí pegou tudo calmo”.

“Que saudades da Rainha”.


Não tenho nenhuma simpatia pessoal por Charles, mas repare nisso: não há praticamente nenhum comentário positivo ou elogioso a respeito dele, que sob outro olhar, dedicou a vida ao cargo, à monarquia e à tradição. Cumpriu o papel de príncipe, de número dois, um papel que ele não escolheu, sem saber quando assumiria o trono. Me parece um baita de um trabalho.


Observemos os próximos capítulos de olho nos grandes aprendizados para sucessores e herdeiros: todo sucessor passa por questionamentos, desconfiança e piadinhas nas costas. Não é com você, não é pessoal. É bom se acostumar e se preparar para conviver com isso, encarando como um dos preços a se pagar pelo caminho que escolheu.


 
 
 

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