O Fundador Raiz Perdeu a Essência? A Crise Atual Mostra que Sim
- Gustavo Sette
- 30 de out. de 2024
- 2 min de leitura
A recente disparada de empresas entrando em recuperação judicial, falência e dificuldades pode refletir uma mudança no padrão decisório do nosso empresário típico, que carinhosamente chamarei de "fundador raiz".
Esse fundador, que nunca gostou de dívida, juros e sempre achou arriscado acreditar que “o Brasil vai decolar”, foi moldado por décadas de crises. Seu estilo era evitar riscos e ter sempre um pé atrás, operando sem alavancagem na certeza de que a próxima crise era apenas questão de tempo.
Mas então veio a pandemia, e com ela, algo mais do que juros baixos. A Selic chegou a 2%, e o mercado financeiro criou uma enxurrada de novos produtos e estruturas que fizeram chover dinheiro barato. E, além disso, o longo isolamento e a vulnerabilidade coletiva da época mexeram com o emocional de muitos fundadores. A vontade de acelerar projetos, arriscar mais e viver algo que parecia estar escapando tomou forma. Pela primeira vez, até o empresário mais conservador considerou que valia tentar “ir mais rápido”.
Agora, o Brasil volta a ser o que sempre foi, com a Selic alta, o crédito caro, o retorno da inflação e o câmbio nas alturas. Muitos desses fundadores raiz talvez sintam que perderam algo essencial no caminho.
Em meu trabalho com sucessores, provoco-os a compreender o pensamento desse fundador que viveu tantas crises, aprendendo sobre risco, crédito e investimentos com uma visão prática e resiliente. Em um país como o Brasil, a experiência desses empresários é uma peça fundamental para o futuro.
Um desafio para sucessores é encontrar o equilíbrio entre esse ímpeto por velocidade e o velho instinto de cautela, fugindo da eterna condenação de repetir o ciclo de euforia e queda.

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