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  • Gustavo Sette

Minha consultoria à família Bolsonaro

“A Nova Dinastia”. Com um título desses, é natural inferir que a matéria de capa da Veja dessa semana traz elementos que permitem comparar a dinâmica familiar do presidente eleito com a de uma empresa familiar.

Há uma diferença crucial de que o poder nessa “empresa” é renovado pelo voto, mas até daria para comparar o eleitor com o cliente de uma companhia tradicional.

A família Bolsonaro deveria contratar um especialista para ajudá-los a planejar os próximos 4 anos, que serão decisivos para a família – e para o país.

Estou me candidatando para o projeto e já preparei até um roteiro. Temos 40 dias até a posse, momento propício e tempo suficiente para fazer esse planejamento. O trabalho deve ter a participação, ainda que parcial, de todos os Bolsonaros e suas esposas. Vocês conhecem história política melhor do que eu e devem ter aprendido algo com as dezenas de políticos que foram presos após desentendimento com a esposa e outros familiares.

Entendendo a família

Bolsonaro tem 5 filhos de dois casamentos, sendo que os 3 mais velhos são políticos eleitos e que atuaram na campanha.

Eduardo, 34, deputado federal, deu um “banho de loja” sobre economia ao pai e foi um embaixador da campanha no Congresso.

Carlos, 35, é vereador e fez a estratégia de comunicação da campanha do pai, que o chama carinhosamente de “meu pit bull”.

Flávio, 37, é senador e, de acordo com o artigo, é o moderado da família. Mais diplomático, conversa melhor com outros partidos e oposição.

Jair Renan, 20 anos, já declarou interesse em entrar para a política e já está se mexendo.

Laura ainda tem 8 anos, provavelmente ainda levará um tempo para definir seu futuro.

Definição de uma visão em comum

Por que essa família entrou na política, em peso? O que ela queria realizar? Há algo em comum nas visões dos 4 Bolsonaros? Há algo capaz de direcionar e unir as suas atuações?

Aqui é preciso ter alguma habilidade para extrair algo, pois muitas pessoas vão fazendo as coisas sem pensar nas razões. Uma versão talvez mais suave da questão seja, o que vocês querem alcançar nos próximos 4 anos? Em dezembro de 2022, querem ser lembrados por quais realizações?

“Tirar o PT do poder” foi o discurso de campanha, mas isso já foi conquistado e, certamente, os eleitores esperam mais. Além disso, quando o pai entrou na política, o PT não estava no poder, então devem haver outras motivações.

É preciso dar um upgrade no discurso, nas aspirações, na comunicação e no planejamento. É surpreendentemente mágico explorar por que estamos fazendo as coisas…

Tomar decisões difíceis antes que os problemas aconteçam

Definida uma visão em comum, o próximo passo seria fazer um breve protocolo familiar, prevendo como se comportar diante de situações adversas ANTES que elas aconteçam.

Companhia aéreas já têm procedimentos prontos para a queda de um avião. Como agir com famílias das vítimas, imprensa, hospitais, seguradoras, autoridades, funcionários, órgãos reguladores. Não dá para esperar um avião cair para COMEÇAR a pensar no que fazer.

A família Bolsonaro passará por situações bem mais prováveis do que a queda de um avião, então seria ótimo, nesses 40 dias, discutir algumas e formalizar um protocolo antes que elas aconteçam (a propósito, enquanto escrevo esse artigo, o presidente eleito já deu mais uma canelada via redes sociais. Haja governança).

Pensei em 34 temas que os Bolsonaro deveriam definir um caminho, das quais listei um aperitivo de 10 sugestões.

1.     Vocês desejam manter uma coesão familiar dentro da atuação política ou é cada um por si? Exemplo, quando surgir uma polêmica como a dos médicos cubanos, e surgirão muitas… Cada Bolsonaro é livre para se posicionar, devem esperar o pai se posicionar primeiro ou farão uma rotina de se falar antes de assumir uma posição?

2.     Jair Bolsonaro passou de deputado federal para… Presidente da República. Será um outro nível de pressão, bajulação, exposição, para todos. Como a família pode acelerar o aprendizado para virar logo a chave, de que é outro jogo? Como não se deixar levar pela soberba e puxa-saquismo?

3.     Como criar uma rotina para lidar com a triangulação, processo comum em famílias no poder? Terá bastante gente habilidosa triangulando entre vocês – pense em Renan Calheiros passando recadinhos para o Bolsonaro 1 usando o Bolsonaro 2, e por aí vai. Como blindar-se dessa prática?

4.     É certeza que, juntos, os Bolsonaro viverão bons e maus momentos. Como lidar com ambos? Que sinais de alerta a família pode usar para detectar indícios de soberba, e como gerenciar as crises?

5.     Se algum Bolsonaro entrar em uma denúncia de corrupção, independentemente de ter fundamentos, qual deve ser o discurso e procedimento? E se o pai for um fracasso, sofrer impeachment ou renunciar? Todos devem permanecer unidos e defender quem está em dificuldades, ou a regra do jogo é, quem escorregar está fora? (combinando agora, as mágoas são menores depois).

6.     E se algum quiser mudar de partido, ou de profissão, ou mesmo apoiar uma pauta contrária à opinião dos demais? Pode? Qual o procedimento?

7.     Ambos são comunicadores digitais bastante influentes. Todos são livres para comunicar o que quiser nas redes sociais, ou vocês querem criar algum tipo de governança?

8.     Como manter a coesão familiar, considerando as distâncias? E como manter unidos os irmãos não ligados à política? Como será a entrada do filho de 20 anos no mundo político?

9.     Quando o pai for passar o bastão, está aberto a algum dos filhos a possibilidade de ser candidato? Qual será o critério? Se mais de um filho quiser, haverá um processo de escolha? E se um filho quiser apoiar ou liderar outra chapa? Todos são livres para escolher os cargos a que concorrerão, ou devem definir em família?

10.  Por fim… Se surgir um assassino mais eficiente e o presidente for eliminado, o que os irmãos Bolsonaro devem fazer?

Os Bolsonaro dificilmente contratarão uma consultoria para organizar a mistura de família com trabalho, mas, está feita a proposta. Voltarei a esse artigo a cada 3 meses para avaliar como estão se saindo diante dessas situações (im) previsíveis!

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