Feliz Natal para as famílias imperfeitas!

Resumo: As redes sociais estão repletas de mensagens de famílias felizes e unidas celebrando o Natal em plena harmonia, mas há um grupo grande de famílias e empresas que vivem disputas, veladas ou declaradas, rompimentos, luto e outras disfuncionalidades que tornam o Natal uma data estressante. No caso das famílias empresárias, é comum a noite de Natal ser uma extensão de um ambiente de disputa e competição, muitas vezes embalada pelo mito da harmonia. Parte do meu trabalho é lidar com essas famílias "imperfeitas", e faço aqui algumas recomendações com base em casos que tenho acompanhado. Em muitas famílias, é melhor reconhecer a inviabilidade de passar um Natal agradável com a família, afinal, não somos super heróis.

É a temporada de fotos felizes, de encontros de empresas e famílias perfeitas, afortunadas, celebrando um ano maravilhoso e uma harmonia inquebrável.

Se esse é o seu caso, se você tem o privilégio de participar de uma família / empresa que vive em harmonia e celebra o Natal com felicidade genuína, agradeça e comemore, pois há um outro lado não tão feliz dessa história.

Em muitas famílias empresárias, o Natal é o oposto de toda essa felicidade do Instagram e do LinkedIn. Vejamos alguns casos comuns.

Há as famílias que cultivam, sem perceber, o mito da harmonia. Os conflitos e diferenças gritam, mas é mantido um aparente consenso. O clima é frio, mas é preciso manter as aparências, dentro do conceito de “positividade tóxica” (ganhei o livro que tem esse nome e será a minha próxima leitura).

Em muitas famílias, o Natal é um “programa de pontos” para agradar os donos, os pais, os avós, aqueles que têm o poder. A empresa e o dinheiro surgem como uma personagem mais importante do que a família e do que o próprio Natal.

Há também as famílias rompidas, em que os conflitos são declarados. Parentes que não se falam, ou que foram expulsos da festa... E há também as famílias em que parentes já se foram, e o Natal é uma data de saudades e luto.

Se você não faz parte do grupo das famílias aparentemente perfeitas de rede social, não se sinta sozinho, somos muitos. E há muitas formas de lidar com essas situações.

Nesse Natal, orientei dois casos muito interessantes, de filhos de famílias empresárias imperfeitas.

Um deles tomou coragem e fez algo que tinha uma vontade reprimida: decidiu usar a noite do dia 24 para viajar, pois é uma data ótima, em que é comum achar passagens na Executiva pelo preço de Econômica, pois ninguém quer voar na noite de Natal. Ele fugiu, mas com estilo, usando um racional bastante respeitável: os últimos 20 natais foram ruins, com viés de piorar a cada ano, o que trazia sempre problemas na sua “nova” família (esposa e filhos).

O outro trabalha em uma empresa familiar que está passando por muitas disputas de poder entre irmãos e primos, e faz parte da dinâmica da família tentar tirar pontos dos “adversários” perto dos tios que hoje têm o poder. A noite de Natal é um vestibular tão previsível quanto a piada do pavê. Fizemos então a lista de provocações e armadilhas que se repetem e a melhor preparação para cada uma delas.

Note que, nesse segundo caso, ir à noite de Natal da família não é uma escolha, mas sim um compromisso profissional – assim como executivos que têm juízo não faltam à festa de fim de ano da empresa. Quem está nessa situação de ir ao Natal por obrigação deve mesmo ir, mas sem deixar de fazer uma reflexão pensando no futuro: você está bem com você mesmo por ter se colocado nessa condição?

Se você faz parte de uma família disfuncional, é melhor não ter a expectativa de salvar a família. Apesar de você ser uma das peças que faz um sistema ser disfuncional, não é seu papel salvar o sistema, não está em suas mãos e, em muitos casos, não é uma tarefa possível. Famílias assim têm mais chances de piorar do que de melhorar, portanto, faça o que for melhor para você, para o seu núcleo familiar e para o seu Natal. Não se pode ter tudo.

Se a sua família é perfeita ou imperfeita, estou aqui para desejar um feliz Natal, e estou fechando 2022 muito feliz por ter ajudado personagens de famílias imperfeitas a entender essas imperfeições, saber lidar com elas, sofrer menos e, quem sabe um dia, ser feliz com a família que tem.