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  • Gustavo Sette

Família alemã doará 10mm de euros após revelação de seu passado nazista

JAB Holding Company é um conglomerado alemão de 191 anos de idade, pertencente à família Reimann. O grupo administra mais de U$ 50 bi de dólares em ativos em diversas indústrias: bens de consumo, cafés, produção de madeira, moda de luxo, restaurantes de fast food e outros.

90% da JAB Holding pertence a quatro dos nove filhos adotivos de Albert Reimann Jr, que compraram as partes dos outros irmãos.

Ontem, o grupo comunicou a veracidade de uma história controversa sobre as gerações passadas: documentos descobertos na Alemanha, França e EUA revelam que Albert Reimann Sr. e Albert Reimann Jr., falecidos em 1954 e 1984, usaram civis russos e prisioneiros de guerra franceses como trabalhadores forçados de suas empresas durante o nazismo.

O mais curioso é a forma como isso foi descoberto. Os envolvidos nunca haviam contado essa história aos ancestrais, mas depois de ler documentos mantidos pela família, a geração mais jovem começou a fazer perguntas e, em 2014, contratou um historiador da Universidade de Munique para examinar a história da Reimann mais profundamente.

O especialista apresentou suas descobertas preliminares aos filhos e netos há algumas semanas. Mesmo antes de os nazistas chegarem ao poder, os Reimanns doaram para a SS paramilitar. Durante a Segunda Guerra Mundial, a empresa usou trabalhadores forçados em sua empresa de produtos químicos industriais. Não ficou claro quantos, mas estima-se que representava 30% de sua força de trabalho.

Além de russos e civis da Europa Oriental, a companhia usou prisioneiros de guerra franceses – sobre os quais Reimann Jr. reclamou em uma carta ao prefeito de Ludwigshafen em 1940 que eles não estavam trabalhando duro o suficiente.

A empresa e a família estão vivendo outra polêmica recente, também ligada à reputação. Oliver Goudet, presidente da JAB Holding Company, era até outro dia o chairman da Anheuser-Busch InBev, o conglomerado colossal de cervejas, mas foi substituído no começo desse mês. A alegação foi conflito de interesses, pois várias companhias de cerveja estão expandindo para outros mercados de bebidas não alcoólicas, segmento em que a JAB atua fortemente. Fato é que a AB InBev não tem gerado bons resultados, e é hora de trocar parte dos seus comandantes.

Reflexões para famílias empresárias

A JAB Holding Company foi fundada em 1828, portanto, já cabe em minha outra série de artigos sobre as empresas familiares mais antigas do mundo.

É natural que empresas dessa idade convivam com polêmicas, crises e conflitos. O caminho não é fugir deles, mas sim saber lidar e superar cada situação, e depois aprender com elas.

O caso acima traz alguns ensinamentos para quem administra uma família empresária:

  1. Empresas e famílias precisam cuidar de sua história. Muitas empresas esquecem o passado, as origens e eventuais deslizes que marcaram sua trajetória, mas o passado faz parte do “ativo e do passivo” da empresa.

  2. É preciso respeitar as aspirações das gerações mais novas. Os jovens herdeiros desse grupo familiar sentiram um desconforto. Não sei como o tema foi tratado pelos líderes atuais, mas o fato é que foram atrás de um pesquisador e passaram a história a limpo. O ensinamento aqui é que não se deve abafar, ignorar ou reprimir as questões, necessidades, anseios e opiniões das gerações que não estão no poder. Família, empresa e patrimônio estão no mesmo sistema, e é preciso haver um espaço para a família “falar” com o sistema.

  3. A vida pessoal dos familiares impacta o negócio diretamente. Aposto que você que está me lendo é cliente da empresa acusada de ter usado trabalho forçado: estamos falando da Reckitt Benckiser, dona de marcas como Veja, Naldecon, Jontex, Finish, SBP, Destac, entre outras. No mundo de hoje, um pequeno deslize de imagem pode se espalhar de forma violentamente rápida e destrutiva. Famílias empresárias precisam criar, divulgar, manter e monitorar um código de conduta e gestão de riscos, que envolva toda a família.

  4. No final do dia, alguém precisa tomar uma decisão. Diante de um escândalo, imagino que muitas empresas tentariam adiar ou desviar-se do problema, mas executivos precisam decidir. A família resolveu reconhecer os fatos e precificar a questão. O valor é alto ou baixo? Fizeram certo ao reconhecer que erraram no passado? Tudo isso gera debate e polêmica, mas o fato é que eles tomaram uma decisão rápida, clara e transparente. Bola para frente.

Um gesto de união

Os controladores da JAB Holding Company deram uma resposta ao mercado – clientes, investidores e opinião pública, mas precisam tratar dessa questão internamente, com funcionários e família.

A empresa é de uma geração de 9 irmãos em seus 60 a 70 anos, então o grupo todo deve ter algumas dezenas de pessoas. Um evento dessa repercussão ataca diretamente aquilo que mais explica a longevidade das empresas familiares: a visão de futuro e os valores.

Não dá para fazer o cheque da indenização e deixar por isso mesmo, é preciso reunir a família, refletir sobre o que ocorreu, abrindo espaço para as pessoas se posicionarem, em uma tentativa de resgatar, rediscutir e reforçar os valores para seguir em frente.

Meu trabalho com famílias empresárias

Ajudo empresas familiares pequenas e médias a lidar com algumas das situações aqui descritas: prevenir e tratar choques entre gerações, definir regras de governança, trabalhar com visão e valores, atuar em crises, processos de mudança e comunicação. Posso também recomendar ajuda de especialistas que atuam no resgate e documentação da história e a memória de famílias e empresas.

Para saber mais, marque uma conversa inicial, sem custo. Utilize o Whatsapp, ao lado, ou escreva para contato@generations.com.br

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