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  • Gustavo Sette

Disputa entre irmãos na Folha de S Paulo

A 2ª geração da família Frias funcionou bem até a morte precoce de um dos irmãos – Otávio faleceu em agosto do ano passado aos 61 anos. Ele cuidava da redação e o irmão, Luiz Frias, das finanças e negócios.

Com a morte de Otávio, a irmã Maria Cristina assumiu a redação, mas a harmonia não durou 6 meses. Na semana passada, o jornal anunciou, por um e-mail de poucas linhas, o afastamento da sucessora, tanto da diretoria de redação quanto de sua coluna periódica.

A saída foi definida de forma, digamos, pouco agradável: em um conselho com 3 votos, Luiz Frias e a viúva de Otávio votaram pela saída da irmã, que nem foi comunicada pessoalmente.

A medida provavelmente seguirá um caminho comum para famílias empresárias: os tribunais, iniciando aquilo que costumo chamar de “batalha sem vencedores”. Quase sempre, todos perdem.

Visões de futuro conflitantes

Ao contrário da agonia vivida por Abril, Estadão e outras editoras e jornais, a família Frias possui um patrimônio bilionário graças à diversificação para o digital e meios de pagamento. O jornal traz notoriedade, mas o dinheiro vem do UOL e do PagSeguro, iniciativas lideradas por Luiz Frias, que, de acordo com diversas matérias, não acredita no futuro do jornal impresso e, portanto, não concorda em tirar dinheiro dos outros negócios.

O jornal precisa andar com as próprias pernas. Essa era uma diferença de opinião da época de Otavio, que defendia investimentos na Folha. Na discussão da semana passada, Maria Cristina disse que o irmão quer fechar o jornal.

E-mail aos funcionários, comunicando a troca na direção de redação.

Outro ponto em discussão é a própria linha editorial: a redação da Folha, dirigida por Maria Cristina, declarou guerra ao atual governo, mas comprar briga com governo não costuma ser bom para os negócios, além de ir contra um dos princípios da casa: praticar o jornalismo apartidário.

É razoável inferir que também há conflitos na política de distribuição de dividendos. Somando isso tudo, vemos que os irmãos Frias têm visões de futuro incompatíveis em relação ao presente e futuro do negócio, do uso do patrimônio e da atuação de cada um.

Parece que os irmãos Frias também não têm muito traquejo para colaborar, trabalhar juntos e resolver conflitos.

A difícil construção de uma sociedade entre irmãos

Na maioria dos casos, uma empresa familiar nasce em uma estrutura que chamamos de sócio controlador – um fundador começa o negócio e tem 100% do poder. Na 2ª geração, em geral as empresas entram na chamada Sociedade Entre Irmãos, que são estruturas muito complexas – prova disso é que poucas chegam até essa estrutura e menos ainda sobrevivem a ela.

É um enorme equívoco achar que a transição para uma sociedade entre irmãos é um movimento natural, como se os laços de família significassem total afinidade para ter e gerir um negócio juntos. É preciso investigar as visões de futuro dos irmãos herdeiros – o que querem, pensam e sonham para o futuro de suas carreiras, do negócio, vidas pessoais e uso do patrimônio.

Quando as visões de futuro dos irmãos encontram uma intersecção sólida, junto com uma notória facilidade e desejo em trabalhar juntos, é possível estruturar uma sociedade entre irmãos. O problema é que, geralmente, as discussões não começam por aí, mas sim pelas questões mais espinhosas e imediatas: dinheiro, poder, benefícios.

A família Frias passou bem pela passagem da 1ª geração: o patriarca tinha dois filhos com atuação bastante complementares. Passou a bola para os filhos, mas atuou em um papel quase diplomático, de “Publisher”, durante alguns anos. É uma sábia forma de passar o poder – delega o poder, acompanha, oferece mentoria e vai se desligando aos poucos.

O patriarca morreu em 2007 e a sociedade entre 3 irmãos funcionou por mais de 10 anos, mas a morte de um deles exigia um novo pacto, uma nova dinâmica.

Lições para outras empresas familiares

Um dos meus trabalhos como consultor é justamente avaliar as condições para uma família empresária estruturar uma sociedade entre irmãos. Alguns fatores precisam estar presentes, incluindo os dois que citei aqui: uma visão de futuro com uma intersecção viável e uma boa dinâmica de relacionamento entre os irmãos, principalmente para resolver impasses e conflitos.

Não havendo as condições adequadas, existem diversas maneiras de estruturar uma sucessão empresarial e patrimonial de forma harmônica, justa e sem obrigar irmãos a serem sócios. A minha definição de processo sucessório vencedor é aquele em que a riqueza e a harmonia permaneceram na família, e a trajetória para isso nem sempre é forçar que irmãos sejam sócios. Repito e reitero: não é um caminho natural.

Espero que os irmãos Frias superem essa situação e recuperem a harmonia. Tenho uma admiração especial por todas as empresas em que já trabalhei, e a Folha foi a primeira… No final do século passado.

Se a sua família empresária passa por situação semelhante, entre em contato e marque uma conversa comigo, para avaliarmos o que pode ser feito.

Matérias consultadas:


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