Suceder um grande homem nunca foi tarefa fácil, mas o caso de Warren Buffett parece até mais desafiador do que o de Steve Jobs. Porém, nos dois casos, a sucessão foi muito bem-feita. A Apple tornou-se uma empresa muito maior e melhor sem Jobs. O que será da Berkshire sem Buffett?
Vejo bons elementos para dar tudo certo. Vai depender muito do temperamento de Greg Abel, o agora oficial sucessor.
O último final de semana foi marcante no caso, pois ocorreu a tradicional reunião anual da Berkshire aos seus acionistas, e foi a primeira sem Charlie Munger, o braço direito de Buffett que morreu em novembro, aos 93 anos.
E o que fez Buffett na primeira reunião sem o antigo parceiro? Chamou ao seu lado o sucessor. Tratou-o como sucessor. Falou em visões para o futuro, dando a dele e cedendo espaço ao sucessor.
A sucessão está feita e da melhor forma, como um processo. Buffett e Abel trabalham juntos há décadas, a governança da empresa é totalmente definida, os conselheiros e executivos são todos antigos... Não há surpresa.
É claro que os jornais romantizam, tentando “Shakespearizar” a questão. O Financial Times está publicando uma série de artigos intitulada “Berkshire after Buffett”, com dramas e suposições, mas não consigo imaginar sucessão tão bem estruturada: Buffett vai sim trabalhar até morrer, mas deixou um executivo preparado e nomeado para o seu lugar, sem surpresa nem sabotagem. E se tudo der errado, há um conselho experiente que pode rapidamente agir.
A incógnita aqui é como será a postura de Greg Abel ao assumir o posto, e minha recomendação seria seguir o que fez Tim Cook, que pegou o comando da Apple e multiplicou o legado de Steve Jobs: trabalhar sendo ele mesmo e focar na geração de resultados, respeitando o passado, mas sem querer concorrer com a figura mitológica que criou a empresa.
Buffett terminou a reunião brincando, "espero que eu venha ano que vem". Uma frase simbólica e emblemática de um processo sucessório muito bem conduzido - até agora...
