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  • Gustavo Sette

Sucessão da empresa familiar vira assunto de cinema

Resumo: a HBO lançará, em 03/junho, a série “Succession”, que revela os dramas da sucessão familiar de uma espécie de “Rede Globo” americana. Analisando o trailer já divulgado, identificamos 15 padrões, crenças e comportamentos que explicam parte desse terrível dado: 70% das empresas familiares são destruídas na sucessão.


Gustavo Sette. 14/05/2018




“Ambientada em Nova York, a série explora temas de poder, política, dinheiro e família”.


É com essas palavras que a HBO anuncia, em seu site oficial, a série “Succession”, com lançamento previsto para 03 de junho.


Um fundador veterano continua no comando de um gigantesco conglomerado de empresas no setor de mídia. Está no terceiro casamento, tem 4 filhos de casamentos diferentes e só um dos filhos trabalha na empresa. O pai e esse filho entram em conflito e isso desperta uma discussão na família, sobre o futuro do negócio.


A HBO divulgou 3 vídeos curtos sobre a série que, somados, não passam de 4 minutos. Em tão pouco tempo, consegui identificar alguns dos padrões clássicos presentes nas empresas familiares e em seus conflitos.

Traços típicos de um fundador:

  1. A resistência em deixar o poder, mesmo de forma gradual e planejada (“mudei de ideia e vou continuar à frente da firma”).

  2. A total negação do fato de que as coisas mudam (“lá vem você com essa de que o mundo está mudando”, a um dos filhos).

  3. A teimosia em insistir em estratégias do passado e o comportamento padrão de enxergar qualquer questionamento como uma conspiração pessoal. O trailer mostra o fundador mandando investir em TV aberta, algo que funcionou no passado, mas mudou. Percebe-se a total falta de condições em questionar, argumentar. Um dos filhos chama o pai de “Kim Jong Pai”, em homenagem ao ditador norte-coreano.

  4. A dissonância cognitiva, ou a diferença entre o discurso e a prática, em relação aos filhos. Em uma cena, com vários presentes, declara que tudo foi feito por amor aos filhos. Em outra, diz individualmente a um dos filhos, “essa empresa é minha e você é um zé ninguém”. O amor declarado é aos filhos, mas o praticado é à empresa e ao poder.

  5. A total negação ao ouvir, de um conselheiro, a hipótese de os filhos terem medo dele.

  6. A expectativa de impor o mesmo estilo de gestão, quando o pai diz ao filho: “Você leu vários livros de negócios, mas aqui a coisa é na porrada e você é muito mole”. Há também a imperícia em dar feedback, algo comum em empresas que não desenvolvem técnicas de liderança.


Traços típicos entre sucessores:

  1. A constante triangulação, tentando criar alianças pelas costas.

  2. A preocupação única em definir quem vai ser o novo chefe, ao invés de se discutir uma visão de futuro para o negócio e para a família.

  3. A visão excludente entre os irmãos, talvez muito por influência dos valores da própria família.

  4. A vaidade (e insegurança) expressa na capa da revista Forbes, em que um dos filhos aparece, sob o título, “O herdeiro que tem talento”.

  5. O questionamento de uma das filhas: “discordar de papai tem que ser considerado traição?”. O que ressalta um ambiente disfuncional, sem espaço para debates sinceros.

  6. Os temas que rotineiramente aparecem entre irmãos quando discutem trabalhar juntos. “você sempre gostou de mandar”, “você tem problemas com vícios”.

Impactos comuns no negócio:

  1. A visão de que o fundador está cometendo erros e levando a companhia a uma situação perigosa, mas a total falta de espaço, processo e canal para tratar do tema.

  2. A falta de processos e de uma liderança profissional, observada com a queda das ações. Toda empresa de capital aberto passa por dias de tensão quando as cotações caem, mas nessa empresa, apesar de grande, ocorre a fúria emocional oriunda da liderança centralizada e passional.

  3. O impacto na legitimidade dos sucessores com a gestão centralizada, quando em uma reunião, um representante de outra empresa pergunta, “quer ligar para seu papai para ver o que ele acha?”. Em outra cena, o sucessor é chamado de filhinho de papai.


Esses são, repito, palpites com base em poucos minutos já divulgados. Fica a recomendação para que pessoas ligadas ao tema ou em situações semelhantes assistam à série e enxerguem a dinâmica de uma empresa familiar fictícia, sem o envolvimento emocional de quem está dentro, para tentar mapear possíveis padrões e comportamentos de sua própria situação.


É importante sempre ressaltar que as intenções, em geral, são positivas – independente da geração, os familiares costumam desejar sucesso para o futuro dos negócios e das relações familiares.


O que causa 70% de destruição das empresas familiares em geral não são as intenções, mas sim as emoções que essa complexa mistura de família e negócios desperta, e a falta de experiência e método para lidar com elas.

Assim que a série estrear, certamente ela será tema de futuros artigos, sempre com foco em discutir e propor soluções.

A estreia no Brasil será dia 03 de junho às 23h no canal HBO.

Site da série:

Links dos trailers usados para esse texto:

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