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  • Gustavo Sette

Reflexões sobre Sucessão: Um Olhar Cético a um Artigo Absurdo

Li e reli o artigo várias vezes, até mesmo buscando a versão original em inglês, para acreditar no que estava diante dos meus olhos. Refiro-me à coluna da Bloomberg traduzida como “Por que a falta de herdeiros se tornou um obstáculo para as empresas familiares”, de 24/1/24.


A frase que mais me deixou perplexo foi: "Podemos manter vivo o espírito da empresa familiar mesmo em um mundo em que os jovens insistem em se casar por amor, e não por vantagens corporativas".


No meu trabalho com empresas familiares e sucessores, achei que já tivesse visto de tudo, mas eis que, em pleno 2024, o colunista da Bloomberg sugere a recriação de casamentos arranjados para fins empresariais. Em outro trecho, ele elogia a adoção de filhos adultos como herdeiros, caso os pais julguem seus próprios filhos incapazes ou não merecedores.


O artigo traz reflexões interessantes sobre as causas dos problemas sucessórios e lista uma série de ideias criativas e interessantes. No entanto, algumas visões apresentadas são preocupantes:


🤷‍♂️ A confusão, amadora para um colunista de negócios, entre herdeiro e sucessor.

👶 A expectativa de que o filho foi colocado no mundo com um mandato, uma responsabilidade, uma obrigação de desejar e continuar o trabalho iniciado pelos pais.

💔 A visão de que manter a empresa da família tem que estar acima de tudo, inclusive da escolha de cônjuge.


Empresas familiares enfrentam problemas de sucessão principalmente porque os donos não preparam adequadamente a empresa e a família. Isso ocorre por falta de motivação e/ou competência para tal. Nesse processo, muitas vezes estereotipam os filhos, os criam em bolhas, promovem rivalidades entre eles e os tornam incompetentes, para depois reclamar que "faltam sucessores".


Conheci alguns fundadores muito esclarecidos e honestos em relação a não planejar a sucessão. "Não vou gastar energia com isso, vou tocar do meu jeito e, o dia que eu partir, meus filhos que se resolvam".


Podemos concordar ou discordar, gostar ou detestar, mas é muito mais honesto, inclusive com os filhos, do que gerar uma série de desculpas e ideias absurdas para desviar o foco do verdadeiro problema, que é a falta de planejamento para algo inevitável.


Fonte: Bloomberg, “Family Companies Are Experiencing Heir Loss”.




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