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  • Gustavo Sette

"Qual o menor salário que você aceita para vir trabalhar aqui?"

Quem nunca se deparou com a pergunta acima? Eu já, e dos dois lados da mesa: já ouvi e, infelizmente, já falei. Voltei a escutá-la em uma simulação com um mentorado e fiquei bastante incomodado.


Será que devemos contratar sempre pagando o mínimo possível? Vejamos o que isso implica.


Pagar o mínimo possível escancara a relação de trabalho como transacional, ou seja, troca de horas por serviço, então que seja uma hora barata.


Se o funcionário vier ganhando o mínimo, possivelmente ele trabalhará preocupado, com inseguranças em casa, possivelmente apertado. A economia que eu fiz pagando o mínimo compensa diante dessa distração?


O funcionário que ganha o mínimo terá outra distração: olhar outros empregos. Não só pelo dinheiro, mas por ter sido contratado como se fosse um galão de água.


A forma de contratar reforça também traços negativos da cultura mais latina de trabalho: o patrão poderoso manda, o empregado obedece (diferente da cultura mais americana de “eu preciso de você e você de mim”). O ressentimento começa na entrevista. 


Por fim, contratar pelo mínimo pode pautar uma relação bilateral, ou seja, me paga o mínimo e eu te entrego o mínimo. A consequência é algo que vejo tanto no Brasil quanto em Portugal: gente improdutiva ganhando pouco, ou seja, patrão e empregado insatisfeitos = cliente insatisfeito.


Eu penso a contratação de forma diferente. Antes de explicar, cabe um esclarecimento: para não parecer texto de caçador de likes, tenho clareza que há vagas e vagas, pessoas e pessoas. Há sim vagas que precisam ser contratadas pelo mínimo possível, até para que possam existir.


Penso que uma boa contratação não é uma transação pelo menor preço, mas sim uma troca com regras e parâmetros claros do que foi combinado que deve ser entregue. Se isso for bem-feito, contratar pelo mínimo acaba gerando uma economia quase irrelevante.


Há uma diferença entre perguntar “quanto custa” e “quanto vale”.


Imagine um gerente que vale no mercado o equivalente a 50 mil dólares ao ano, mas “o mínimo” por estar desempregado é 40 mil dólares. Estamos falando de uma economia de 10 mil dólares anuais. O que são 10 mil dólares anuais perto da entrega bem-feita de um belo trabalho de vendas, de tecnologia, de controles financeiros, de recursos humanos?

Imagine um gerente de produção que reduza os erros, o desperdício, o absenteísmo... Um gerente comercial que aumenta as vendas, a conversão, o ticket médio e a satisfação do cliente. Um gerente de RH que acelera o tempo e o acerto de contratações, elimina desperdícios com benefícios, melhora a comunicação interna e a satisfação do time. Se eles fizerem isso bem feito, a economia de pagar o mínimo é migalha. 


O problema, portanto, não é pagar o mínimo, mas sim fazer um processo bem alinhado de expectativas e prestação de contas. Como a entrevista de emprego muitas vezes é uma troca de mentiras (a empresa é o Brad Pitt e o candidato é a Angelina Jolie, nas palavras épicas de Ricardo Semler, da época em que esse casal era bem mais atraente), cabe à empresa deixar muito clara a regra do jogo e executá-la.


No processo seletivo, combine com o seu candidato a gestor de Contas a Receber: queremos, em 2 anos, evoluir x% em inadimplência, automação e tempo de conciliação. Queremos que você apresente um plano de ação para essas metas em 60 dias.


E aí, vem a pergunta certa: quanto você quer ganhar para entregar esse combinado?


É claro que, para isso acontecer, a empresa e seus gestores precisam ter construído uma cultura de mensuração, de definição e acompanhamento de metas e de confrontar a realidade. Já atuei em empresa que teve que demitir gerente no 3º dia de trabalho. Foi Brad Pitt na entrevista e se entregou na primeira semana? O gestor errou na contratação e precisa corrigir rápido.


Ao desafiarmos a mentalidade de "pague o mínimo, receba o mínimo", abrimos as portas para uma cultura empresarial que valoriza o talento, incentiva a excelência e, por fim, constrói um caminho sólido para o crescimento da empresa e das pessoas. Então, antes de optarmos pelo atalho do menor preço, perguntemos a nós mesmos: o que realmente vale a pena e o que estamos dispostos a investir para alcançar um resultado bem melhor do que... O mínimo?




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