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  • Gustavo Sette

Nova Perspectiva sobre a Geração Z: Mais Otimismo, Menos Estigma

Tenho recomendado a empresários e gestores que parem de demonizar com tanta veemência a geração Z, um grupo de 2 bilhões de pessoas nascidas entre 1997 e 2012, por motivos elementares: não faz sentido achar que "decifrou o código" de tanta gente, não gera ganhos e, no fundo, é apenas mais uma troca de gerações, com as velhas e antigas rotulações que acontecem há séculos. 


E eis que ganhei um reforço. A revista The Economist desta semana traz, em sua matéria de capa, um olhar esperançoso e otimista sobre o grupo. 





A matéria começa atestando que 80% dos jovens da geração Z vivem em países pobres ou emergentes e, de largada, estão em condições melhores de vida, saúde, educação e tecnologia do que todas as gerações anteriores. Aqui já atingimos um Pareto: 80% da geração Z está melhor simplesmente por ter acesso a condições básicas melhores. 


No mundo mais desenvolvido, o cenário é muito melhor do que se imagina. Em diversas comparações com as gerações anteriores na mesma idade, o pessoal da geração Z é mais rico, mais saudável, mais conectado, ganha melhor e está transformando o mundo do trabalho, com mais demandas ligadas à qualidade de vida e benefícios.


Falando do mundo do trabalho, cabe aqui uma atenção especial: o fato de a nova geração fazer demandas novas ao mercado de trabalho não representa, em si, nenhuma grande novidade. Eu comecei a trabalhar na década de 1990 e vivenciei diversas transformações. Trabalhei com malote e memorando interno (um antecessor do e-mail em papel, entregue em envelopes). Vi empresas sem o desenho de "um computador por pessoa". Trabalhei de terno e gravata e vi gente ser mandada para casa pois a barba não estava bem-feita. Vi salas fechadas, depois mesão com todo mundo junto, modelos misturados... Já passei por revista pessoal na saída da empresa. Notebook e celular já foram sinais de status. Já vi ser proibido falar com um nível hierárquico acima do seu sem prévia autorização. E por aí vai. A dinâmica de trabalho sempre mudou e vai continuar mudando. 


Um dos rótulos atribuídos à geração Z é que eles não gostam de trabalhar e são improdutivos, mas esse discurso é difícil de colar no Brasil, que mantém uma produtividade baixíssima há quase 50 anos e que tem muito mais gente recebendo Bolsa Família do que trabalhando. Outra crítica é que são muito sensíveis e ofendidos- eu até concordo, mas acho que toda a sociedade está assim. Esses dias assisti a um episódio de um Casseta & Planeta da virada do século e fiquei me perguntando qual seria o efeito daquelas piadas na sociedade de hoje... 


Dando um desconto nos exageros, será que todos os desejos da nova geração são ruins? Mais tempo para cuidar da saúde, uma clareza maior acerca do processo de crescimento, ter um horário mais flexível, não querer ter carro... Acho que tem muita coisa boa no meio do ruído e, pensando nas finanças das empresas, há muitos casos em que esse jovem que quer mais qualidade de vida não quer vários salários de bônus como eu mesmo já quis. Além de muitas mudanças serem inevitáveis, creio que serão para melhor e, possivelmente, mais baratas!


Claro que os jovens sofrem problemas, mas quem não os sofreu? Cabe também a reflexão: quantos desses problemas são causados por pais inseguros, cheios de expectativas e que querem diagnóstico e tratamento para tudo?


No fundo, esse processo de criticar a geração anterior faz parte da cultura há muito tempo, existem textos milenares fazendo esse tipo de crítica. Atribui-se ao filósofo Sócrates a seguinte afirmação, de 2500 anos: 


“As crianças de hoje adoram luxo; têm maus modos, desprezo pela autoridade; mostram desrespeito pelos mais velhos e adoram conversar em vez de trabalhar. As crianças são agora os tiranos, e não os servos de suas famílias. Não se levantam mais quando os mais velhos entram na sala. Contradizem seus pais, tagarelam, devoram guloseimas à mesa, cruzam as pernas e tiranizam seus professores.”


Talvez seja parte do processo de envelhecimento, olhar para os mais jovens, mais saudáveis e cheios de esperança e traduzir alguma saudade e inveja em implicância e comparação. Logo logo, todo mundo da geração Z vai ter que pagar boleto e o ciclo vai se repetir com a próxima geração, chamada de Alpha. Prova disso é que, anos atrás, falávamos a mesma coisa dos millennials, que saíram de moda pois viraram adultos e pagadores de boleto. Não há nada de novo. 


A empresários, gestores, fundadores, não vejo sentido em rotular um grupo tão grande e não vejo utilidade prática na crítica. O tempo passa e teremos, a cada dia, mais chefes, subordinados e clientes da geração Z e das próximas que vierem. Atendo mentorados na faixa de 18 anos e aprendo muito com eles. Podemos aprender com esse processo, tratar as distorções, impor limites quando necessário e seguir a vida, como sempre fizemos. Fora disso, o que se ganha ao gerar mais uma fonte de ressentimento?


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